Entre muitas das minhas incapacidades, a dificuldade da prática do elogio é uma das que mais se salienta. Não me é fácil elogiar. Não me é fácil tecer louvor em reconhecimento de outrém, verbalizar admiração pela realização daquilo que não seja "absolutamente extraordinário".
Não estou a falar do elogio gratuito ou banal, ou da adulação interesseira. Estou a falar do reconhecimento sincero que nos faz aplaudir, entusiasmar e transmitir esse nosso reconhecimento aos outros.
Alguém dizia que apenas quando elogiamos tornamo-nos merecedores de exercer crítica. Talvez assim seja. Gosto no entanto de pensar, que aquilo que poderá ser importante neste processo seja acima de tudo o "falar verdade". E este é o busílis da questão. O exercício da verdade no elogio!
Como a prática do elogio é um importante factor motivador, encorajador e de estímulo, esta tem sido uma batalha que procuro não perder.
Ao procurar alguma das razões para esta dificuldade tenho isolado uma: a distracção! Não uma desculpa, mas uma real constatação!
Sou particularmente distraído. Sou particularmente desatento aos pormenores que dão consistência, que pela sua realização trazem ordem, que produzem harmonia e conforto. Talvez uma atenção redobrada ao esforço, à dedicação ou à simples verificação das realizações dos outros, permitiria facilitar o fluir do elogio. Mas tal exige disciplina. Mas como além de distraído sou indisciplinado, então a coisa realmente complica-se...
Um último apontamento. Etimologicamente, a palavra elogio deriva da palavra latina elogium, que significa epitáfio ou inscrição tumular. Talvez seja por isso mesmo que é tão fácil elogiar na morte e tão difícil fazê-lo em vida! Mas qual será mais importante? As palavras expressas e acolhidas no coração daqueles que são objecto da nossa admiração ou aquelas gravadas na pedra gélida de uma qualquer construção sepulcral?
1 comentário:
Esta arte também pode ser algo cultural, de herança.
Por tradição, o nosso povo não é muito dado a elogios e isso, acaba por se reflectir e projectar na vida pessoal. Quase genético.
Mas estamos sempre a tempo de mudar.
Como costumo dizer, ninguém deveria reter algo que pertence a outro. Se algo é merecedor de elogio, então, temos de o dar ... porque não nos pertence a nós reter! :)
Mas também descobri que a maioria das pessoas é desconfiada quando recebe elogios...!
Gostei particularmente da tua ultima reflexão da pedra tumular.
Um abraço à familia! :D
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