2005-10-28

Olhar nos olhos


Num destes dias, enquanto aguardava que as minhas "mulheres" regressassem das compras, sentado num banco do "shopping" entretive-me olhando para as pessoas que passavam.
Olhava não para os cabelos, nem para os rostos, mas apenas para os sapatos.
Eu que me considero bastante "conservador" quanto ao modelo de sapatos que uso, acabou por se tornar bastante hilariante este exercício.
Curvos, rectos, de saltos quadrados, redondos, cor-de-rosa, verde fluorescente, com fechos, com cordões, enfim, um verdadeiro paraíso de cor e formas.

O exercício tornou-se bem mais sério, quando deixei os sapatos para trás e passei a concentrar-me nos olhos de quem passava. Homens, mulheres, crianças, mais velhos, menos velhos... A todos que passavam por mim, tentava "radiografar-lhes" os olhos.
Olhar "olhos nos olhos" nem sempre é fácil.
Implica exposição por parte do observador
No entanto, quando nos atrevemos a olhar "olhos nos olhos" dos outros apercebemo-nos de uma realidade bem mais profunda, bem mais viva e verdadeira do objecto da nossa contemplação.
Os olhos como verdadeiras "janelas da alma" apontavam claramente qual o estado interior de cada um.

Isto fez-me pensar no que os meus olhos reflectiriam para aqueles que em sentido inverso olhavam para mim.

E tu, o que refletem os teus olhos?

2005-10-14

Nas sombras do silêncio

Nas sombras do silêncio, contemplo a minha existência.
Arraigado ao ser, ao ter, ao reter e deter isolo o ego sempre presente.
O "ruído" do dia-a-dia assoberba-me de informação. Alguma útil, outra despropositada.
Que importa o que fui? Que importa o que sou? Que importa o que serei? Importa, pois...

Nada se constrói, nada se destrói, contudo tudo se busca no nada do presente. E o tempo sempre presente, esse passa veloz, alheio às conquistas, às alegrias, ou às frustrações e derrotas.

Gosto do discurso directo, do olhar nos olhos, do interagir com o outro. Repugna-me a "voz passiva" e evasiva. Do falar do que não se viveu, do rejeitar o que não se conhece.
Brincar com as palavras, agregando-as em sentidos contraditórios, desenhá-las no papel branco, esperar que as mesmas adquiram vontade própria e se ergam no ar, compondo a mais bela melodia que os olhos possam vislumbrar.
A imaginação flui, no entanto a insatisfação permanece. Depressa os sentidos caiem na lápide gélida do descontentamento
Por si só, a letra é morta, no entanto a Palavra Criadora, o Verbo, essa é capaz de gerar vida no interior.
Esta Vida gera luz, gera verdade, gera liberdade, transporta esperança, aponta salvação.
Faz-nos sentir o intangível e imaterial, traz o conhecimento e entendimento.
Abre a porta do Eterno...

2005-10-06

A propósito do eclipse

Esta é a sequência de memorandos a propósito da ocorrência do eclipse na passada segunda-feira, numa qualquer empresa portuguesa:

Memo do Director Geral para o Dir. Industrial General:
"Hoje pelas 11 horas, ocorrerá um eclipse anular do sol. Isto significa que o sol desaparecerá por trás da lua durante 2 minutos. Dado que esta ocorrência não acontece todos os dias, será dada a possibilidade aos empregados para verem o eclipse no parque de estacionamento.
Assim, todos os empregrados deverão encontrar-se no parque de estacionamento às 10 para as 11 horas, onde realizarei um pequeno discurso de introdução ao eclipse e de informação generalizada do acontecimento. Óculos de protecção serão disponibilizados a preço reduzido."

Memo do Dir. Industrial para o Chefe de Departamento:
"Hoje às 10 para as 11 horas, todo o pessoal deverá juntar-se no parque de estacionamento. Seguidamente dar-se-à o o eclipse anular do sol, o qual desaparecerá por 2 minutos. Por um preço moderado, tal ocorrência será segura com óculos de protecção.
O Director Geral fará um discurso em primeira mão para nos dar informação sobre o acontecimento.
Isto é algo que não se vê todos os dias."

Memo do Chefe de Departamento para o Chefe de Secção:
"O Director Geral fará um discurso para fazer o sol desaparecer por 2 minutos, num eclipse.
Isto é algo que não se vê todos os dias, por isso os empregados encontrar-se-ão no parque de estacionamento às 10 ou às 11.
Isto será seguro se pagarem um preço moderado."

Memo do Chefe de Secção para o Chefe de Linha:
"10 ou 11 empregados deverão ir ao parque de estacionamento onde o Director irá eclipsar o sol durante 2 minutos. Isto não acontece todos os dias.
Tal ocorrência será feita com segurança mas isso irá sair-vos do bolso."

Memo do Chefe de linha para o pessoal:
"Alguns empregados irão ao parque de estacionamento hoje para verem o Director Geral desaparecer.
É uma pena que isto não aconteça todos os dias."