2008-06-17

Senhora ministra, tenha decoro!

"Nível de reprovações e de desistências cai para o valor mais baixo da última década

Os resultados escolares do ano lectivo de 2006/2007 apresentam uma melhoria acentuada em todos os ciclos de ensino, indicam os valores apurados pelo Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação (GEPE) relativos à taxa de retenção e desistência escolar."
- 3 de Mar de 2008

Esta transcrição foi retirada do portal do Ministério da Educação. Posso assegurar-vos que quando forem apresentados os resultados relativos a 2007/08, será estrondosamente anunciado o sucesso no combate ao insucesso escolar.
A verdade, é que o que se está a passar não é muito diferente de uma "passagem administrativa" dos alunos que efectivamente não trabalharam e não aprenderam, que deveriam ficar retidos e não o estão a ser. Que os recursos que estamos a utilizar na formação das novas gerações, estão a ser pura e simplesmente desperdiçados, onde o que conta são as estatísticas, onde a excelência e o mérito são vocábulos arcaicos e destituídos de qualquer significado, nesta política escandalosa de laxismo e mediocridade.

Pela primeira vez pude ver conselhos de turma a questionarem-se relativamente a alunos do 3.º ciclo com mais de 8 níveis inferiores a 3 valores (8 "negas" sim, perceberam bem), no que concerne se deveriam, ou não, transitar de ano.
Pela primeira vez pude ver elementos da DREN presentes nos conselhos de turma, a pretexto de estarem "próximos dos agentes educativos"; a verdade nua e crua é que não passa mais de um artifício de pressão para obrigar os professores a cumprir as orientações de "avaliação fácil".

Como encarregado de educação estou chocado, como português: revoltado.

2008-06-16

Oração radical

"Ó Jesus, manso e humilde de coração, ouve-me.
Livra-me Jesus,
Do desejo de ser estimado,
Do desejo de ser amado,
Do desejo de se exaltado,
Do desejo de ser honrado,
Do desejo de ser louvado,
Do desejo de ser preferido a outros,
Do Desejo de ser consultado,
Do desejo de ser aprovado,
Do medo de ser humilhado,
Do medo de ser desprezado,
Do medo de ser repreendido,
Do Medo de ser esquecido,
Do medo de ser ridicularizado,
Do medo de ser prejudicado,
Do medo de ser alvo de suspeitas.
E, Jesus, concede-me a graça de desejar
Que outros possam ser mais amados do que eu,
Que outros possam ser mais estimados do que eu,
Que na opinião do mundo,
Outros possam crescer e eu diminuir,
Que outros possam ser escolhidos e eu posto de parte,
Que outros possam ser louvados
E eu passe despercebido,
Que outros possam ser preferidos a mim em tudo,
Que outros possam tornar-se mais santos
Do que eu, contanto que eu me torne
Tão santo quando devo ser."

2008-06-11

A menina que cantava ao espelho

Parabéns D.
Da segurança do quarto para a exposição do palco. O caminho para a excelência continua. Não desistas... O melhor ainda está para vir. E como lá diz o "corinho": "Deus faz tudo muito bem a seu tempo".
Parabéns pelo primeiro lugar!

2008-06-05

Urgentemente

"É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer."

- Eugénio de Andrade

2008-06-02

Tira a máscara

Na inquietude do tempo a máscara surgiu. Era o perfeito instrumento para ocultar as grotescas imperfeições que o implacável reflexo do espelho fazia sobressair. Aquele tosco metal arduamente polido apontava cada sulco, cada ruga, cada expressão pesada, cada incisão da natureza decrépita. O encobrimento tornou-se obrigatório. Mas... Como o fazer? Apenas um caminho era possível: a aparência do perfeito.
Assim a máscara viu o seu uso disseminado. O espelho seria enganado, o olhar indiscreto seria apaziguado, a lancinante exposição seria aplacada. Na máscara era encontrada segurança, era encontrado prestígio, era encontrada a perfeição perdida. Rapidamente começou a ser vendida e trocada na clandestinidade, numa cumplicidade completa dos seus intervenientes em que o sigilo era facilmente estabelecido pela conivência recíproca.
Para cada situação havia sempre a máscara certa a ser usada: a da complacência, a da reprovação, a da anuência, a da humildade, a da concordância e certamente a mais eficaz de todas: a do interesse fingido.
Assim a máscara era usada. De tal modo a prática se tornou reiterada que já nem no lugar de recolhimento e de isolamento a mesma era retirada.
Durante algum tempo, o ardil funcionou. No entanto a procura incessante da luz dos holofotes, da centralidade das atenções, da atracção do palco central da vida, teve o seu efeito inesperado. Esse objecto de culto que durante tanto tempo tinha trazido a segurança, beleza e perfeição subitamente derrete e desvanece-se ante o excessivo irradiar que essa mesma luz do protagonismo almejado produzia.
E a história repete-se... Nas brumas do tempo, no correr da memória, no curso da existência, a inevitabilidade da exposição do que é "pobre, roto e nu" inexoravelmente ocorrerá: mais cedo ou mais tarde...

Assim sendo um imperativo decorre: "Tira a máscara!" - é o grito que apenas pode ser ouvido por quem busca e sente uma fome de autenticidade.