2005-11-07

Quando a floresta arde

Com este início de Outono chuvoso, a memória da seca de Verão e o flagelo dos fogos florestais, vai-se desvanecendo a pouco e pouco das preocupações de todos nós.
Na catástrofe nacional que se verificou neste Verão, facilmente podemos identificar 3 factores causais: alterações climáticas, traduzindo-se em altas temperaturas e seca; aplicação de uma política nacional de "monocultura" florestal; desarticulação e insuficiência dos meios para um combate eficaz às chamas.
Também nós na vida, muitas e muitas vezes somos circundados por "fogos" que nos "queimam". Num ápice, parece que perdemos tudo: relacionamentos que levaram anos a construir, esvaem-se diante de nós; "status quo" adquirido que é questionado e desrespeitado; expectativas de carreira defraudadas... Situações adversas que nem sempre entendemos.
Impotentes, assistimos a que o "fogo" de tudo se apodere e que na sua passagem deixe apenas um rasto de destruição e ruína.
O facto é que muitos desses "fogos" são alimentados pela nossa própria secura interior. "Árvores" secas, com folhagem ressequida que ajudam à propagação desse mesmo fogo.
Outros decorrem de opções de vida erradas, decisões e caminhos percorridos que inevitavelmente viriam a atear "fogos" simultâneos e em diversas frentes, para os quais nos faltam recursos para os combater: a nossa capacidade de perdão, de tolerância, de discernimento ou de sabedoria. Ficamos exauridos, inférteis, despedaçados, impotentes face ao "fogo" demolidor!
Em momentos assim, vem à superfíe a nossa capacidade regeneradora e "reflorestadora". De fazer brotar novamente a semente que ficou e a partir das cinzas, recomeçar um novo ciclo, uma nova etapa, criando e gerando de novo vida.
O êxito desta acção será directamente proporcional da nossa proximidade de fontes de água, de "lençois freáticos" que limpem e nutram as sementes que escaparam à acção destruidora do incêndio.
Assim, a nossa capacidade de recuperarmos de um "incêndio" dependerá fortemente do quão arraigados estivermos ao rio da Vida.